quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sou daquelas pessoas que vai querer escrever sempre com o antigo acordo, por diferentes razões...

Parece-me errado o pressuposto de se alterar uma Língua para se facilitar uma economia de Cultura. A economia deveria sustentar a cultura, não o contrário e na realidade a verdadeira cultura passa por reconhecer e evidenciar os pontos de contacto entre as diferenças, multiplicar os pontos de vista e a riqueza dos diferentes modos de escrita e não criar um denominador comum que, no seu todo, é menos rico e menos inteligente.


Depois a ortografia das palavras não valem apenas pelo que dizemos, mas transportam também a raiz da palavra pelo que ignorá-lo parece-me um pressuposto deficiente e pobre. Não é por acaso que uma das riquezas da língua portuguesa é a distância entre o que se escreve e o que se diz e, claro, o espaço todo que há entre essas duas línguas, que afinal são apenas uma.


Mais, a Língua Portuguesa sempre foi o princípio unificador da identidade portuguesa, pelo que deve evoluir pelo seu caminho e não com o objectivo de trazer mais meia dúzia de trocados a meia dúzia de produtores e editores. Ainda mais se atentarmos no exemplo E.U.A. e Reino Unido: o inglês deles é muito diferente e os mercados culturais não sofrem com isso...(adoro a diferença entre doughnuts e donuts - os americanos nunca vão perceber porque é que aquelas "noz" de massa se chamam Donuts, já os britânicos sabem exactamente porque é que se chama Doughnuts! É a tal pobreza etimológica da ortografia simplificada. O formato argola veio mais tarde!)


Irrita-me também que me pareça isso uma tentativa de diminuir o analfabetismo que grassa neste país... simplificar não é necessariamente evoluir...
E há ainda as palavras que mudam a ortografia ou têm dupla ortografia de onde desaparecem letras que lemos... Facto - fato; aritmética - arimética; amnistia - anistia; enfim...
Já tive a triste experiência de ler um jornal com o novo acordo e juro que fiquei irritadíssimo com o linguajar maltrapilho que é este novo Português que foi acordado...


Sou contra a que se obrigue a Língua a romper em vez de deixar que evolua na sua própria velocidade... e contra a que se eliminem as diferenças... essa enfermidade pan-europeia, essa pandemia de aproximar eliminando as diferenças é tola, parva, ignorante, idiota e também imperialista e perigosa...
Devemos cultivar a diferença de cada povo e sermos capazes de sermos únicos e genuínos, ao mesmo tempo que cultivamos o gosto pela tolerância ao vizinho, ao outro... isso sim é riqueza... mas dá trabalho a essas mentes congeminam uma nova ordem mundial....

Deixo uma pérola de Teixeira de Pascoaes:

"Na palavra lagryma, (...) a forma da y é lacrymal; estabelece (...) a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão psicológica; substituindo-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética. Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá profundidade, escuridão, mistério... Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abysmo, é transformá-lo numa superfície banal."

Eu gosto da ideia dele...
Essa é a minha opinião... mas sou um pouco conservador: assusta-me a morte das coisas...

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